Pessoal,
Estou postando a minha Coluna da Revista Ciência Hoje para que vocês possam ler.
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COLUNAS :: POR DENTRO DAS CÉLULAS
O inimigo está à espreita
Colunista discute fatores que favorecem o surgimento das infecções hospitalares

A infecção hospitalar ou nosocomial (do grego nosos = doença, komeo = cuidar) é provavelmente tão antiga quanto os próprios hospitais. Os primeiros relatos desse fenômeno, porém, só foram registrados na Áustria durante o início no século 19, atingindo mulheres após o parto. Pesquisas mostraram que essa contaminação ocorria devido à falta de assepsia das mãos durante a realização dos partos.
A contaminação por germes patogênicos nos centros cirúrgicos era algo comum, apesar das pesquisas realizadas por um cirurgião inglês chamado Joseph Lister (1827-1912), que implantou os princípios de assepsia pela adoção de procedimentos simples como o uso de fenol para desinfecção das mãos ou a aplicação de pomadas de ácido fênico nas feridas.
Por algum tempo se acreditou que a solução para esse problema residia nos antibióticos. Os primeiros registros do uso desses compostos químicos remontam a pelo menos 2.500 anos, pelos chineses (sempre eles!) e egípcios. Mais tarde, eles foram redescobertos no final do século 19 por diversos pesquisadores.
Entre esses cientistas, devem-se ressaltar as investigações conduzidas pelo médico francês Ernest Duchesne (1874-1912) e, principalmente, as pesquisas do biólogo escocês Alexander Fleming (1881-1955) sobre a atividade antibacteriana da penicilina, um composto extraído do fungo Penicillium notatum . As pesquisas de Fleming foram publicadas em 1929 e lhe valeram o Nobel de Medicina em 1945, junto com o australiano Howard Florey e o alemão Ernst Boris Chain.
As infecções hospitalares podem ser provocadas por um crescimento explosivo de espécies oportunistas presentes na flora bacteriana dos pacientes. A debilidade dos mecanismos de defesa desses indivíduos devido à idade, doenças ou métodos de tratamento cria condições favoráveis para o processo. O uso de procedimentos invasivos (soros, cateteres e cirurgias) ou o contato com bactérias presentes no hospital, em outros pacientes ou membros da equipe médica podem também causar um processo infeccioso.

Após a descoberta e isolamento de diversos antibióticos, os índices de contaminação nosocomial diminuíram de forma significativa. Porém, algumas décadas após o descobrimento desses fármacos, surgiram variantes de bactérias resistentes a vários antibióticos, agravando o problema.
Esse processo de resistência ocorre naturalmente e está relacionado com a ação da seleção natural de mutações casuais que confiram a membros da população de uma determinada bactéria a capacidade de sobreviverem e se reproduzirem mesmo quando expostos a antibióticos.
O uso indiscriminado e inapropriado desses fármacos favorece o surgimento dessas bactérias resistentes a vários antibióticos, conhecidas popularmente como superbactérias. O diagnóstico incorreto, a prescrição errônea e o uso de doses inadequadas de medicamentos, a interrupção prematura do tratamento das infecções, o emprego de antibióticos humanos em alimentos consumidos e a automedicação são fatores que também contribuem para o surgimento da resistência a antibióticos.
Uma vez que a clientela dos hospitais é formada por portadores de patologias diversas e por indivíduos que apresentam um quadro de imunodepressão, esses locais convertem-se em um ambiente propício para a proliferação de infecções bacterianas e para o surgimento das temidas superbactérias.
Biofilmes
Duas outras características desses patógenos tornam esse quadro ainda mais complexo: a capacidade de transferir genes de resistência a antibióticos para outros indivíduos da mesma cepa bacteriana ou para espécies diferentes e a habilidade para desenvolver biofilmes.

Por outro lado, várias bactérias oportunistas associadas com a infecção hospitalar, como Pseudomonas aeruginosa , Staphylococcus aureus , Staphylococcus epidermidis e Escherichia coli, são capazes de formar um microambiente protetor denominado biofilme – uma microcolônia de espécies de microrganismos mutualistas que vivem imersos em matriz hidratada produzida por essas espécies ou pelo próprio hospedeiro. Representantes de outros grupos de microrganismos como algas, fungos e protozoários também podem ser encontrados nos biofilmes.
Esses patógenos estão associados com casos de infecção nosocomial oportunista e seus alvos
principais são pacientes recém-operados ou transplantados, submetidos à terapia intensiva, infectados por HIV ou sob quimioterapia para tratamento de câncer. Esses microrganismos causam infecções no local das cirurgias, além de estarem relacionados com pneumonias associadas com ventilação, infecções do trato urinário, queimaduras, septicemia e infecções em feridas crônicas.

Os microrganismos presentes em biofilme formam comunidades cujas atividades metabólicas são integradas. Adaptações estruturais e fisiológicas tornam possível a expressão coordenada de genes que criam um ambiente adequado para a proliferação e manutenção da condição vital dos membros dessas microcolônias.
Os patógenos presentes em biofilmes apresentam aumento da resistência a agentes antimicrobianos e às ações do sistema imune. Por isso, essas comunidades de microrganismos estão relacionadas com a ocorrência de infecções crônicas e com uma diminuição da capacidade do organismo hospedeiro de controlar a proliferação e os efeitos prejudiciais de infecções. A transferência de material genético entre as espécies presentes nessas comunidades explica, pelo menos parcialmente, esse fenômeno.
Além disso, esses microrganismos produzem enzimas líticas e toxinas que inibem a recuperação de infecções e promovem um estado inflamatório crônico, resultando na liberação de radicais livres e de outros compostos que podem ter efeitos danosos sobre a saúde dos pacientes. Compostos liberados por esses patógenos inibem fatores de crescimento e inativam proteínas necessárias para o combate a infecções. A produção de toxinas, como a exotoxina A de Pseudomonas aeruginosa , também retarda a recuperação do processo infeccioso.
O caso do Brasil
Os biofilmes são usualmente encontrados em substratos sólidos – como equipamentos hospitalares – associados com soluções aquosas. A dificuldade de se erradicar essas bactérias desses locais, aliada a sua multirresistência a drogas antibacterianas, faz com que esses seres contribuam substancialmente para a mortalidade de pacientes hospitalizados. Sua ocorrência e persistência no ambiente hospitalar tem sido verificada em todo o mundo, particularmente em países em desenvolvimento como o Brasil, e tem tornado infelizmente muitos hospitais verdadeiras fábricas de doenças.

Para que essa situação seja mudada, é necessário que a população se inteire da gravidade do problema e solicite que os hospitais de sua cidade tomem medidas para evitar a ocorrência de infecções nosocomiais e possam promover uma assistência e um atendimento de qualidade e seguro para todos.
Jerry Carvalho Borges (Colunista da CH On-line)
31/08/2007
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4 comentários:
Muito interessante a matéria...
gostei da matéria... =]
legal a materia...
Parabéns pela matéria. Seria interessante oferecer algumas notas sobre as figuras, para melhor compreensão das mesmas.
A
nita
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